Marvão, Monsanto e Penha Garcia eram os principais locais de visita da viagem realizada pelo Alto Alentejo e Beira Baixa no fim de semana de 13, 14 e 15 de Agosto de 2016, um dos fins de semana mais quentes que me lembro do verão de 2016… e que verão que foi…
Já conhecia a maioria dos pontos de passagem e visita, mas também é certo que alguns deles já há alguns anos que por lá não passava. As estradas são na sua generalidade boas para circular e mesmo em pleno Agosto, não contávamos apanhar muito transito.
Dia 1: Lisboa a Castelo de Vide. Passagem em Évoramonte, Estremoz, Portalegre e Marvão
Dia 2: Castelo de Vide a Monfortinho. Passagem por Vila Velha de Ródão, Monsanto, Penha Garcia
Dia 3: Monfortinho a Lisboa, o regresso. Passagem pela Barragem de Montargil
Informações Gerais sobre a Viagem, Alojamentos e Pontos de Interesse
Dia 1: 342 km, de Lisboa a Castelo de Vide
Pelas 8h30, em Lisboa, já estava tudo pronto para a partida. Um fim de semana de três dias com pouco mais de 800 km de estradas nacionais pela frente e pontos de paragem obrigatórios do nosso Portugal com muitas maravilhas por descobrir e reviver.
Para poupar tempo neste primeiro troço após atravessar a Ponte 25 de Abril, optamos por circular pela A2, seguindo depois pela A6, até à saída 6, para depois circular na N18.
O primeiro ponto de paragem seria Évoramonte para uma visita rápida ao seu Castelo.
Évoramonte
Évoramonte é uma pequena freguesia do concelho de Estremoz, com menos de 1000 habitantes, e o símbolo icónico da aldeia é sem dúvida o seu castelo. Também conhecido por Castelo de Évora Monte, o Castelo Évoramente foi erguido num dos pontos mais elevados da serra de Ossa, bem no centro da povoação.
Os muros que cercam a vila e o castelo foram considerados Monumento Nacional em Junho de 1910, tendo sido alvo de trabalhos de consolidação e restauro nas décadas de 1930 e 1940. Mais tarde, de 1971 a 1987, foi novamente alvo de intervenções conferindo ao monumento o seu atual aspeto.
Do século XII, altura em que a localidade foi conquistada aos mouros por Geraldo Sem Pavor, apresenta uma planta quadrangular, com torreões circulares nos seus vértices, mistura elementos do estilo gótico e renascentista de inspiração italiana.
Ao longo dos séculos a povoação foi perdendo importância e poder, e a 24 de Outubro de 1855 o seu concelho foi definitivamente extinto, sendo o seu antigo termo repartido pelos concelhos vizinhos de Évora, Estremoz, Arraiolos e Redondo.
No interior das muralhas, na zona sul, vão encontrar um pequeno cemitério junto à Igreja de Santa Maria que aparenta ter sido recuperada, ou pelo menos, pintada.
Vão ainda encontrar uma ou duas lojas de comércio tradicional e pouco mais… Infelizmente tivemos azar no dia porque o Castelo estava fechado, e talvez tenha sido a razão de nos termos cruzado com tão pouca gente.
Informações sobre o Castelo de Évoramonte
Horário: Terça-Feira – 14h00 – 17h00. Quarta- Feira a Domingo – 10h00 – 13h00 / 14h00 – 17h00
Encerra: Segunda-Feira, Terça-Feira de manhã e o 2.º fim de semana de cada mês. Feriados de 1 de Janeiro, Domingo de Páscoa, 1 de Maio, 25 de Dezembro e 3 de Junho (Feriado Municipal).
Preçário: 1,50€ / pessoa
Ainda sobre Évoramonte, importa referir que foi aqui que se assinou, em 26 de Maio de 1834, a Convenção de Évoramonte, que pôs termo à Guerra Civil Portuguesa de 1828 a 1834 travada entre absolutistas e liberais, definindo o exílio do ex-infante D. Miguel.
Ao sair da vila, do lado direito ao descer do castelo, poderão ver uma placa que marca esse mesmo local.
Estremoz
Com apenas 20 km a separar Évoramonte de Estremoz, foi rápida a chegada ao Castelo de Estremoz onde fica também a emblemática Pousada do Castelo de Estremoz, também conhecida pela Pousada da Rainha Santa Isabel.
Estremoz é conhecida internacionalmente pelas suas jazidas de mármore branco, chamado Mármore de Estremoz.
A exploração do mármore de Estremoz tem uma origem muito antiga, como comprova o Templo romano de Évora, que contém mármore originário de Estremoz, e também se pode encontrar o mesmo material no altar-mor da Catedral de Évora.
A entrada fez-se pela zona sul, e por entre as estreitas ruas de calçada lá chegámos ao interior do castelo.
O Castelo, datado do século XII, foi erguido em posição dominante sobre uma colina a norte na serra de Ossa e tinha como função principal a defesa da fronteira entre Portugal e Espanha, acabando por ser posteriormente de grande importância para vários episódios militares da História de Portugal.
A residência que D. Dinis terá mandado erguer, e onde viria a falecer a sua esposa a Rainha Santa Isabel, viria a ser destruída no século XVII por uma explosão seguida de incêndio ocorrida numa dependência que servia como depósito de armas, apenas resistindo a torre de menagem.
Localizada bem no centro histórico, a torre de menagem, agora transformada em pousada, é o ponto de partida ideal para descobrir a cidade a pé.
Tanto para sul, como para norte, terão uma visão interessante em todo o redor do castelo, e foi este o local para a pausa do almoço. Eram já 13h30m e tendo em conta a próxima paragem e o calor que já se fazia sentir, foi procurar uma sombra e almoçar. E nada melhor que a imponente galeria ogival da Casa da Audiência.
Este local também conhecido por Paços do Concelho ou Galeria D. Dinis, fica ao lado da Capela Nosso Senhor dos Inocentes que por sua vez fica de frente para a estátua erguida em homenagem à Rainha Santa Isabel e é um dos poucos locais com sombra nas imediações.
Depois de terminado o almoço, foi tempo de continuar viagem pela N4, em direção a Elvas, onde apenas fizemos uma paragem rápida, e uma volta pela cidade. Acabei por ver o famoso Aqueduto da Amoreira mas acabámos por seguir caminho porque esta é sem dúvida uma cidade onde vou querer voltar com mais tempo para explorar.
Portalegre
Com cerca de 1 hora de caminho pela frente até Portalegre, as estradas e a ausência do transito num dia de sol e calor intenso fizeram as delícias da viagem com aquela sensação de liberdade que não consegue ser contada, apenas consegue ser sentida.
Tal como previa, as estradas são na sua generalidade boas para moto turismo e a paisagem ajuda e muito para se desfrutar destes momentos.
Embora a paisagem dos municípios a norte de Portalegre seja tipicamente alentejana, com zonas planas alternando com colinas na maior parte dos casos, relativamente baixas, Portalegre costuma ser descrita como uma zona de transição entre o Alentejo mais seco e plano, e as Beiras, de clima mais húmido e de terrenos montanhosos.
O nome de Portalegre, que terá tido origem em “Portus Alacer” (Portus – ponto de passagem, Alacer – alegre), ou simplificando, Porto Alegre, e segundo a lenda frequentemente descrita por Fre Amador Arrais na sua obra “Diálogos” de 1589, terá sido fundada por Lísias no século XII a.C. na sequência do desaparecimento da sua filha Maia.
Esta passeava com Tobias quando foi cobiçada por um vagabundo, Dolme, que a rapta e assassina Tobias. Lísias ficou desesperado pelo desaparecimento da filha e vai à sua procura, acabando por encontrá-la morta junto a um ribeiro que hoje tem o nome de Ribeiro de Baco.
À cidade entretanto fundada terá sido dado o nome de Amaia (Ammaia) onde foi construído uma fortaleza e um templo dedicado a Baco, no local onde hoje se encontra a Igreja de São Cristóvão.
No entanto, hoje acredita-se que esta lenda resultou de fantasias apoiadas na existência de uma lápide com uma dedicatória ao imperador romano Lúcio Aurélio (161-192 d.C.), a qual foi provavelmente trazida das ruínas da cidade romana que se encontra em São Salvador da Aramenha, perto de Marvão, a qual é hoje aceite como sendo a Ammaia romana referida em várias fontes históricas.
Andar pelas ruas estreitas da cidade não é tarefa fácil porque pode baralhar o GPS, mas é uma aventura interessante principalmente quando o GPS vos manda por estradas que agora são sentido proibido.
Ainda não eram 16 horas e a cidade parecia adormecida. O centro histórico é de grande interesse com fachadas históricas e pequenos momentos que parecem parados no tempo. As ruas encontravam-se praticamente vazias, talvez devido ao intenso calor que se fazia sentir, mas com alguma persistência conseguimos chegar à Sé Catedral de Portalegre.
Construída em finais do período renascentista, a Sé Catedral situa-se no ponto mais elevado da cidade e é uma das atrações mais emblemáticas da cidade.
Constituída por arcadas abobadadas, três naves, uma grande cúpula e um claustro adornado a azulejo, esta obra do século XVI é um exemplar da arquitetura religiosa do distrito e contém mais de 90 pinturas maneiristas no seu interior.
Depois de uma visita rápida ao interior da Sé Catedral, e porque ainda tínhamos o principal ponto de paragem pela frente, optámos apenas por parar e descansar um pouco à sombra num pequeno jardim na Avenida da Liberdade, junto à Igreja do Espírito Santo e onde também vão encontrar uma árvore de grande porte, classificada de interesse público e datada de 1839.
O relógio já marcava 16h30m e era tempo de entrarmos no Parque Natural da Serra de S. Mamede, bem em direção ao centro, em direção a Marvão, o último ponto de visita do dia antes de rumarmos a Castelo de Vide onde passaríamos a noite já que em Marvão não encontrámos alojamento disponível dentro dos valores que procurámos.
Marvão
Já tinha visitado Marvão em 2008 e a imagem que tinha gravado na memória não tinha desvanecido com o tempo.
Bem próximo da fronteira de Espanha, e no ponto mais alto da bonita Serra de São Mamede, o ambiente de paz de espírito e tranquilidade continua rodeado e protegido por muralhas do século XIII e século XVII.
Esta vila histórica de ruas sinuosas mostra que o tempo aqui faz pausas e faz-nos esquecer do stress do dia-a-dia em que não conseguimos muitas vezes aproveitar o momento.
Os vestígios históricos da região remontam aos períodos Paleolítico e Neolítico tendo em conta os inúmeros menires, antas, bem como uma importante estação romana.
A sua localização estratégica, com difíceis acessos, serviu de proteção natural, e o facto de se encontrar tão próxima da fronteira fez com que fosse um bastião defensivo Português durante séculos, tendo sido palco de diversas batalhas e lutas politicas.
Existem pelo menos 3 grandes parques de estacionamento.
P1 no Largo de Olivença, alguns metros à frente da Porta de Marvão.
P2 junto à Capela do Calvário, a sul da vila.
P3 na Rua Dr. Matos Magalhães, entre o Museu Municipal de Marvão e a Câmara Municipal de Marvão.
Ao visitarem Marvão têm a certeza de visitar a própria história que corre nas ruas estreitas de arquitetura alentejana, heranças góticas e manuelinas.
O Castelo de Marvão e as imponentes muralhas do século XIII são monumentos inesquecíveis da vila, mas Marvão tem muito mais para oferecer como a Igreja Matriz do século XV, a antiga Igreja de Santa Maria e o Museu Municipal de Marvão com coleções etnológicas e arqueológicas da região.
O Castelo de Marvão, na vertente norte da serra, em posição dominante sobre a vila e estratégica sobre a fronteira de Portugal e Espanha, controlando no passado a passagem do rio Server, afluente do rio Tejo, garantiu a atenção de diversos monarcas, expressa em diversas campanhas de remodelação que deram ao monumento o seu aspeto atual.
O mais rochoso dos castelos nacionais, constitui-se em dois recintos contíguos que, por questões defensivas, tiveram que abarcar toda a crista rochosa mais elevada.
É interessante a descrição do Prior Frei Miguel Viegas Bravo, nas Memórias Paroquiais de 1758…
“É esta vila praça de armas, a mais inconquistável de todo o Reino; da parte do sul é inacessível, de tal sorte que só aos pássaros permite entrada, porque em todo o comprimento é contínuo, e continuado o despenhadeiro de vivos penhos em tanta altura, que as aves de mais elevados voos, dele de deixam ver pelas costas (…) o qual muro, serve mais para não deixar cair os de dentro, do que impedir a entrada aos de fora, e por isso em muitas partes é este muro baixo (…) que esta praça ou presídio não pode ter contra si em tempo Bélico mais que a falta de água.A cerca urbana ocupa a restante crista rochosa. Toda a fortificação é, obviamente, em relevo, em parte natural, com nítida preocupação pela impermeabilidade.”
E porque a vista do seu interior é simplesmente deslumbrante, convém reservar alguns minutos para percorrerem todo o seu interior e perceberem realmente a deslumbrante paisagem em todo o seu redor.
Horário: Aberto Todos os dias das 10h às 17h
Entradas: Residentes e Naturais do Concelho de Marvão – Gratuito; Bilhete Normal – 1,50 €; Crianças até aos 12 anos – Gratuito; Titulares do cartão jovem, do cartão de estudante, do cartão 65 e de pensionista – 50 % desconto.
Castelo de Vide
Este local de pernoita foi escolhido apenas por questões de proximidade já que a ideia original era ficar por Marvão mas não se conseguiu alojamento com valores dentro da média que se procurava.
Referem muitas vezes que Castelo de Vide é a “Sintra do Alentejo” tendo em conta o seu caráter romântico, associado aos seus jardins, abundância de vegetação, o clima ameno e a proximidade da Serra de São Mamede.
Com pouco mais de 2000 habitantes, pareceu-nos o local ideal para pernoitar e nada melhor que escolher o Hotel Castelo de Vide com uma pequena piscina para que, logo após deixar as malas no quarto, a primeira coisa a fazer fosse mesmo refrescar um pouco depois de um dia de intenso calor, mas bastante interessante pelo passeio realizado.
Para jantar, podes escolher uma das esplanadas na Praça D. Pedro V, ou na Rua de Olivença e depois circular nessa mesma zona onde vais encontrar a Igreja de Santa Maria da Devesa que é um dos símbolos da vila.
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Realizei um vídeo para o primeiro dia de viagem. Imagens de Évoramonte, Estremoz, Elvas, Portalegre e Marvão.
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Dia 2: 174 km, de Castelo de Vide a Monfortinho
O segundo dia era o dia com menos quilómetros por percorrer, por isso queríamos aproveitar ao máximo os dois locais principais que iríamos visitar, Monsanto e Penha Garcia.
Vila Velha de Ródão
Rumando a norte, a primeira curta paragem foi em Vila Velha de Ródão onde podemos encontrar o famoso Monumento Natural das Portas de Ródão. Este famoso monumento natural é uma formação geológica que resulta da intersecção do duro relevo quartzítico da Serra das Talhadas com o curso do rio Tejo.
Neste local existe um estreitamento do vale, por duas paredes escarpadas que atingem os 170 metros de altura, fazendo lembrar duas “portas”. Uma a Norte do distrito de Castelo Branco (Beira Baixa), e outra a Sul, no concelho de Nisa (Alto Alentejo).
O grande lago e as grandes profundidades imediatamente a jusante das Portas de Rodão dão a entender a imponência da queda de água que aqui terá existido antes de se atingir a atual fase de equilíbrio.
Classificado como Monumento Natural a 20 de Maio de 2009, as Portas de Rodão constituem um lugar único pelos seus valores geológicos, paisagísticos, arqueológicos, históricos e biológicos, e é sem dúvida o ex-líbris natural de Vila Velha de Rodão, onde o Tejo, o mais importante rio da Península Ibérica, corre entrincheirado entre gigantes quartzíticos.
Infelizmente não fiz corretamente o trabalho de casa e falhei um local que teria sido deveras interessante para fotografar esta beleza natural. A jusante do monumento, pouco depois do Castelo de Rodão, existe uma pequena ilha que vai praticamente até meio do rio com uma vista privilegiada das paredes rochosas.
Só posteriormente encontrei fotos da beleza daquele ponto de vista e por essa razão, se passarem por Vila Velha de Rodão não percam a oportunidade de ver mais de perto esta magnifica obra de arte natural.
Mais informações sobre este local no meu artigo dedicado ao Monumento Natural das Portas de Ródão.
Fizemos uma curta paragem na Zona Do Cais De Rodão, mas sem dúvida que as melhores vista é sem dúvida ao passar na ponte (ver vídeo no final do dia), e na tal ilha que se encontra a jusante do monumento que referi antes.
Monsanto
Continuando rumo a Norte, pela N18 e depois pela N3, evitámos o centro de Castelo Branco e rapidamente começamos a ver ao longe o cabeço de Monsanto (Mons Sanctus) que se destaca de toda a planície em seu redor, atingindo os 758 metros de altitude.
Cerca de 2300 metros após a rotunda de Medelim, há uma curva à esquerda com um enorme placard publicitário, com espaço suficiente para estacionar e para contemplar, embora ao longe, a Aldeia de Monsanto na encosta de uma enorme derrapagem escarpada.
Em tempos de muita rumaria, como acontece no verão, não é fácil circular e muito mais difícil é arranjar lugar de estacionamento em condições. São muitos os autocarros de turismo que vão até este local sem depois terem condições sequer de circularem, ou até mesmo fazerem manobras, e foi isso com que nos deparamos a chegar à entrada da aldeia.
O maior parque de estacionamento que me recordo, e quando digo maior, estou a falar de uma lotação de uns 10 carros, fica perto da Igreja Matriz de São Salvador, que também faz de miradouro para Norte.
Com um pouco de dificuldade, porque estava um autocarro de turismo a tentar fazer inversão de marcha nesse local, lá conseguimos subir mais um pouco e arranjar um espacinho por entre as ruas apertadas da vila.
Infelizmente nem toda a zona aparece no Google Maps mas na Rua do Castelo, alguns metros depois do cruzamento que vai dar à Junta de Freguesia, existe um bom miradouro de onde é possível ver a cor dominante da vila, o laranja dos telhados que se completam com as paredes rochosas que fazem muitas vezes parte das próprias habitações ou edifícios de comércio local.
Deste ponto também conseguirão ver a Torre do Relógio onde está exibido o Galo de Prata, troféu da autoria de Abel Pereira da Silva, quando em 1938 a aldeia ganhou o famoso título de “Aldeia mais Portuguesa de Portugal”.
Nessa zona existem alguns, poucos, restaurantes e recordo-me de ter estado no Petiscos & Granito há alguns anos, alguns metros apenas abaixo da entrada para o miradouro, que tem uma varanda com uma vista fantástica. Na altura gostei tanto da vista como da comida, mas desta vez não comi por lá por isso não sei se a qualidade se mantém.
Como alternativa podem tentar o Taverna Lusitana, que fica do lado esquerdo de quem sobre a Rua do Castelo e que se encontra classificado como Nº2 no TripAdvisor.
Voltando agora atrás na história, Monsanto conta com menos de 1000 habitantes e foi sede de concelho entre 1174 e 1853 e a presença humana neste local data desde a era de D. Afonso Henriques, no entanto, existem vestígios desde o paleolítico. Os vestígios arqueológicos dão conta de um castro lusitano e da ocupação romana no denominado campo de São Lourenço, no sopé do monte.
Em 1165, depois dos mouros terem sido derrotados por D. Afonso Henriques, este doou o lugar de Monsanto ao rei de Portugal sob orientações de Gualdum Pais, que mandou construir o Castelo de Monsanto, mas foi D. Sancho I quem repovoou e reedificou a fortaleza que, entretanto, foi destruída nas lutas contra o Reino de Castela.
O caminho até à fortaleza não é muito fácil, principalmente em dias de calor intenso como foi o caso, até porque não existem sombras e muito menos água a que possam recorrer. Por essas razões é altamente recomendável levar água ou então encher uma garrafa na fonte que vai encontrar pelo caminho ao subir a Rua do Castelo.
A antiga fortificação apresentava duas portas: A Porta da Traição, a Sul, e a Porta Principal, situada junto à Casa do Guarda com acesso em “L” e arcos de volta perfeita, que é por onde vai entrar, por Norte.
Tal como em toda a povoação, o Castelo também foi construído tendo em conta as irregularidades do piso.
A vista, tanto na subida, como já chegados à fortaleza é simplesmente fantástica, mas uma vez mais aviso que a subida não é muito fácil principalmente em dias de calor e/ou se levar peso às costas.
Já no interior do recinto do Castelo, vamos encontrar o Tanque, no centro de um polígono delimitado pela Torre de Menagem, pela Casa dos Governadores e pela Igreja Santa Maria do Castelo. Este é resultado de uma reconstrução de um anterior edifício religioso da Ordem dos Templários.
Não me canso de dizer o quanto é incrível a vista em redor do Castelo, e muito perto do marco geodésico, existe um outro mais pequeno em que subindo, poderão rodar 360º para contemplar tudo à vossa volta. Há uns anos tirei daqui uma foto panorâmica de 360º e ficou fantástica.
Já fora do recinto mas ainda antes de descer em direção à aldeia, do vosso lado direito, vão encontrar a Capela de São João, da qual resta apenas um arco junto à muralha, e a Capela de São Miguel, construção do século XII/XIII, de características românicas, e em seu redor vão também encontrar algumas sepulturas perfuradas nas rochas.
Passadas as 13 horas, e a visita ao Castelo concluída, era tempo de descer e procurar onde almoçar. Como Penha Garcia ficava apenas a alguns minutos e uma vez que os restaurantes em Monsanto estavam cheios (já tínhamos tentado almoçar antes de subir ao castelo), optámos por seguir viagem em direção a Penha Garcia e procurar algo a meio caminho, ou até mesmo já a chegar a Penha Garcia.
Recorrendo ao TripAdvisor, tentámos o restaurante “O Raiano” mas a confusão era tanta que nem esperámos. Se àquela hora ainda havia tanta gente para almoçar, nem imagino o tempo que iríamos ter que esperar para termos mesa. Após conversa com um amigo da zona, disse para tentarmos o restaurante “O Javali”, um pouco mais à frente do cruzamento para o centro da localidade, mas infelizmente também não tivemos muita sorte porque as filas eram as mesmas.
Ao que parece estes são os únicos restaurantes com alguma dimensão da zona e em dia de feriado, sem marcação, e tendo em conta que no dia anterior tinha existido a realização de uma feira medieval em Penha Garcia, seria de esperar a enchente de visitantes.
Uma vez mais, recorrendo às novas tecnologias, tentámos a nossa sorte para o centro da localidade, mas o único ponto de referencia que nos dava, como restaurante, não existia ou então estava tão camuflado que não encontrámos.
Continuámos a subir e por sorte fomos dar com uma estrada sem saída, mas que tinha o Don Garcia com uma esplanada simpática no exterior e uns petiscos para encher o estômago que já se queixava depois das tentativas falhadas.
Penha Garcia
Terá sido aqui, a poucos quilómetros de Espanha, que um povoado neolítico se instalou devido à sua posição privilegiada de defesa, e mais tarde uma povoação romana.
Hoje os principais atrativos para quem visita Penha Garcia são, sem dúvida, a vista que rodeia toda a vila, o seu castelo no ponto mais alto, e as marcas que a natureza e a história deixaram neste lugar.
A região é fértil em vestígios pré-históricos e romanos, tendo sido estes últimos bem documentados nas ruínas da capela de São Lourenço.
A visita começou pela Barragem de Penha Garcia, facilmente acessível de veículo. Construída entre 1975 e 1980, conta com um paredão com cerca de 25 metros de altura, coroamento de 112 metros de comprimento, 2 metros de largura e situa-se a 519 metros acima do nível do mar.
Vai encontrar certamente várias pessoas em redor de toda a albufeira, no entanto, para quem quer ir a banhos, há uma outra sugestão mais apelativa.
Descendo em direção ao rio, podemos percorrer a Rota dos Fósseis onde vamos encontrar, ao longo de todo o percurso, inúmeros vestígios do que foi a vida neste lugar há 600 milhões de anos, uma das principais razões da sua classificação e inclusão no Geopark Naturtejo da Meseta meridional, criado com o patrocínio da UNESCO.
Outra coisa que vai encontrar é o famoso conjunto de moinhos de água, alguns recentemente recuperados de modo a ilustrar o ambiente de trabalho e habitacional do local.
Seguindo caminho, vai agora deparar-se com uma das principais atrações de lazer em Penha Garcia, a Praia Fluvial de Pego, com águas da barragem conservadas na sua represa que faz parte do caudal do rio Ponsul.
Apesar de ser pequena e quase só conhecida pelos locais, só não é caracterizada como praia fluvial devido à ausência de algumas infraestruturas. A qualidade da água é excelente e a paisagem é tão imponente como as rochas que as sustêm.
Não tendo conseguido chegar de mota ao castelo, era agora o momento de tentar lá chegar, mas a pé.
A subida não é fácil mas a paisagem sobre a vila e sobre a barragem é magnifica. As pedram contam-nos a lenda de que, naquele lugar, vagueia ainda o fantasma do antigo alcaide do castelo, D. Garcia. Depois de raptar a filha do governador de Monsanto, D. Branca, o nobre terá sido capturado e condenado à morte.
Os apelos de D. Branca, por misericórdia, valeram-me a redução da pena. Condenado a ficar sem um braço, D. Garcia é ainda hoje conhecido por “o decepado”.
O Castelo de Penha Garcia, construído, possivelmente, no reinado de D. Sancho I para ajudar a proteger a fronteira portuguesa das investidas de Leão, foi doado por D. Dinis aos Templários mais de cem anos depois, regressando à posse da coroa no século XVI, com a extinção das ordens.
O dia já estava quase a terminar e era tempo de irmos até ao local de pernoita. Neste caso optamos pelo Hotel das Termas, em Monfortinho, pela proximidade e por não termos encontrado estadia em Penha Garcia muito provavelmente devido às festas que tiveram lugar na noite anterior e por se tratar de fim de semana prolongado.
Depois do jantar num dos poucos cafés/ restaurantes da zona, apenas três, se não estou em erro, o calor era tanto que só apetecia ficar na rua acompanhado do silêncio da noite, mas o cansaço já acumulado ditou uma ida para o descanso mais cedo.
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Realizei um pequeno vídeo para este segundo dia de viagem. Contém imagens de Vila Velha de Ródão e Monsanto.
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Dia 3: 335 km, de Monfortinho a Lisboa
O dia de regresso é sempre o que custa mais e neste caso, aquele que menos tenho para contar.
Tendo em conta o cansaço acumulado dos dois dias anteriores, mais pelo calor que se fez sentir que propriamente a viagem em si, optamos apenas sair do hotel por volta das 10 horas, sem pressas. Não tínhamos muitos pontos de paragem planeados e por esse motivo a viagem de regresso não se avizinhava com grandes demoras.
À saída de Monfortinho descemos pela N240 em direção a Castelo Branco para não passarmos novamente por Penha Garcia e Monsanto. Já na zona de Castelo branco percorremos parte do troço que já tínhamos feito no dia anterior mas não havia muito por onde inventar, apenas tentámos descer um pouco mais a N3 até perto da Barragem da Pracana mas um corte na estrada baralhou-nos os planos e tivemos que arranjar alternativa.
Infelizmente não tinha o mapa do GPS atualizado e no Google Maps, no telemóvel, apenas dava como alternativa a entrada na autoestrada, coisa que queríamos evitar. Na zona de Fratel optamos então por voltar atrás por Vilas Ruivas, até Vila Velha de Rodão, para depois descer até Nisa e virar para Belver. E acreditem que foi um belo desvio já que a estrada que apanhamos foi deveras interessante para fazer de mota… Curvas e contra curvas numa paisagem de serra e sem qualquer transito…
O único problema mesmo foi quando parámos para fotografar novamente o Monumento Natural das Portas de Ródão porque coloquei mal o telemóvel no suporte e alguns metros depois de arrancar, o mesmo desceu pela frente da mota até ao chão e ainda andou uns quantos metros de arrasto em pleno alcatrão.
Já depois de passar Nisa, mas antes de chegarmos a Belver, parámos em Gavião para almoçar. Não foi fácil encontrar um local aberto para comer. Junto à estrada principal, quase de frente para umas bombas de gasolina, encontramos o café “O Gavião” com uma esplanada simpática mas a comida, para além de demorar muito tempo, não era nada de especial e talvez tivesse sido melhor procurarmos um pouco mais.
Continuando viagem pela N244, deparamo-nos com o segundo contratempo do dia. A ponte que atravessava o Rio Tejo e dava acesso direto a Belver estava cortada por motivo de obras.
A única solução seria percorrer cerca de 40 km para passar o Rio Tejo pela Barragem de Belver mas optamos por não o fazer. Vimos o castelo ao longe e já não foi mau. O facto de se encontrar isolado no alto de um monte granítico, a Oeste da vila, guarnecendo a chamada linha do Tejo, faria querer que teria uma visão interessante em todo o seu redor, mas ficou para outro passeio.
Barragem de Montargil
Já mais a Sul, mais uma paragem. Projetada em 1954 e concluída no ano de 1958, a Barragem de Montargil é muito utilizada na prática de desportos náuticos, pesca desportiva e outras atividades relacionadas com a natureza como a observação de aves.
Esta barragem, que pertence à bacia hidrográfica do rio Tejo, possui uma central hidroelétrica equipada com uma turbina que produz, em média, 5.9 GWh por ano.
Ao longo de toda a extensão da Albufeira da Barragem de Montargil existem vários locais para ir a banhos, sendo um dos preferidos o que fica perto da aldeia de Carvalhoso, perto do cruzamento entre a N2 e a N243, onde existe uma marina.
Aqui há facilidade de acesso e é uma zona tranquila com várias sombras para os dias mais quentes de verão. No entanto, é preciso ter muita atenção já que se trata de uma zona não vigiada e todos os cuidados são poucos.
Pouco mais de 100 km pela frente, que se traduziam em pouco mais de hora e meia de viagem, e estava a chegar ao fim um passeio por estradas fantásticas, sob um calor intenso, mas que valeu muito pelo recordar de alguns lugares que não visitava há muito tempo.
São viagens destas, em boa companhia, que ficam registadas para sempre na nossa memória pela experiência, pela vivência, pela história e os locais fantásticos que Portugal tem para descobrir.
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Informações Gerais sobre a Viagem, Alojamentos e Pontos de Interesse
Alojamentos
Hotel Castelo de Vide » 55,00 € (quarto duplo, com pequeno-almoço)
Hotel das Termas » 50,00 € (quarto duplo, com pequeno-almoço)
Percuso/ Combustível
Distância Percorrida » 851 km
Combustível » 25,4 litros
Consumo » 2,9 L/100km
Resumindo a viagem, deixo os pontos de paragem (a negro) e de passagem (a itálico).
- Lisboa [ início ]
- Évoramonte
- Estremoz
- Elvas
- Portalegre
- Marvão
- Castelo de Vide
- Vila Velha de Rodão
- Monsanto
- Penha Garcia
- Monfortinho
- Castelo de Belver
- Barragem de Montargil
- Lisboa [ fim ]
Mapa do Percurso
Caso pretendam os ficheiros para GPS, podem fazer download do ficheiro percurso-alto-alentejo-beira-baixa.zip . (incluí versões GPX, ITN, KML, KMZ e TRF), e recomendo o programa (gratuito) TyreToTravel para planeamento das vossas viagens, e conversão para GPS.
2 Responses
Como “amante” das duas rodas, achei excelente este road trip, também já fiz algumas vezes Lisboa-Monsanto (tenho lá família). É destes passeios que gosto de fazer, infelizmente não tenho companhia, mas vou sozinho na mesma.
Os votos de boas curvas e fico a aguardar por mais publicações.
Olá Agostinho, sem dúvida que foi uma das minhas viagens preferidas. Adoro toda essa parte de Portugal, e já fui a Monsanto umas 4 ou 5 vezes. As estradas e a paisagem, são fantásticas. Fiz mais recentemente uma que fui de Lisboa a Reguengos, e depois desci o Alqueva até Mértola. Numa outra viagem de fim de semana de 3 dias subi em direção à Serra da Estrela, passando por Vila de Rei, Pedrógão Grande, Góis, sendo que o término do passeio foi Vila Nova de Foz Coa. Para o regresso, percorri toda a N222 até ao Porto, e depois acabei por descer pela A8… Conto colocar ambas as experiências muito brevemente no blog 🙂 Boas Curvas!