As cidades espanholas de Toledo, Segóvia e Ávila foram o destino da primeira aventura sozinho em solo estrangeiro.
Já tinha realizado uma viagem sozinho de Lisboa a Sagres pela Costa Vicentina, mas agora era altura de passar fronteiras. Com outras quantas viagens já idealizadas fora de Portugal, esta de apenas 4 dias seria o suficiente para fazer o teste.
Já há algum tempo que pretendia ir a Madrid e embora já lá tenha estado uma noite, ainda não estou convencido o suficiente para lá ir “perder” uns dias. Procurei então o que poderia haver nas redondezas para que também pudesse visitar numa eventual ida.
Após a pesquisa e as recomendações de um amigo, acabei por escolher estas três cidades do centro de Espanha, cada uma delas com as suas particularidades. Fiquei convencido e fiz-me à estrada.
Dia 1: Lisboa a Toledo
Dia 2: Toledo a Segóvia
Dia 3: Segóvia a Ávila
Dia 4: Ávila a Lisboa
Mapa do Completo do Percurso e Pontos de Interesse
Dia 1: 590 km, de Lisboa a Toledo, Espanha
Cerca das 8h30 já estava eu a passar a Ponte 25 de Abril em direção a Espanha, fronteira de Elvas/Badajoz.
Não gosto muito de andar em autoestrada por causa da monotonia, mas era o caminho mais rápido até Toledo e fiz apenas duas paragens para colocar gasolina e esticar as pernas. Importa referir que esta viagem foi realizada em Outubro e embora com dia soalheiro, até cerca das 10h30, sentia-se o normal fresquinho de Outono, mas depois dessa hora o calor começou a apertar.
Ao longe já se avistava a torre da Catedral de Toledo, a Santa Iglesia Catedral Primada de Toledo, que outrora já tinha visto em fotos de reconhecimento.
Uma vez mais acabei cometendo o mesmo erro de não atualizar o GPS para os mapas mais recentes e, tal como aconteceu a caminho dos Picos da Europa, uma das estradas a chegar a Toledo é muito recente e não apareceu no GPS acabando por dar umas voltas extra antes de conseguir entrar na cidade.
Embora a Ponte San Martín fosse o primeiro ponto de paragem do programa, até porque ficava em caminho, acabei por subir diretamente para o Mirador Del Valle para aproveitar a vista enquanto descansava e comia qualquer coisa. Eram 15h00 e ainda não tinha almoçado.
Do Mirador Del Valle consegue-se ter uma vista panorâmica fantástica de toda a cidade, onde é possível identificar muito facilmente a Catedral de Toledo e o Alcázar de Toledo.
Ao longo da estrada existem vários pontos de paragem, mas o mais recomendado é mesmo este até porque é onde param todos os autocarros turísticos provavelmente porque fica mesmo de frente para toda a cidade.
Para evitar confusões de estacionamentos e estar mais descansado, acabei por parar ligeiramente mais abaixo para descansar e almoçar, junto a umas mesas de madeira e percebe-se o porquê daquele miradouro ser o preferido, a vista panorâmica sobre toda a cidade com o Rio Tejo a circundar à sua volta, é simplesmente fantástica.
Depois de descansar e tirar as fotos da praxe, desci em direcção à Puente de San Martín, por onde já tinha passado, mas não parado, no lado Oeste da cidade.
Esta ponte, que apenas se pode atravessar a pé, é formada por cinco arcos e duas torres hexagonais nos seus extremos, tendo sido construída no século XIV pelo Arcebispo Pedro Tenorio e reformada três séculos mais tarde sob o reinado de D. Carlos II. As duas torres nos seus extremos foram colocadas como forma de fortificar a ponte, sendo que a mais antiga pertence ao século XIII e a de datação mais recente, do século XVI.
Agora era tempo de ir para a zona Este da cidade, fazendo a entrada pela Ponte de Alcántara. Passei novamente no Mirador Del Valle parando depois num pequeno parque de estacionamento antes de chegar à ponte.
A Puente de Alcántara é de origem romana e tem seis arcos. Com cerca de 194 metros de comprimento, 61 metros de altura e 8 metros de largura, foi construída no ano 106. Os seus arcos assimétricos assentam sobre cinco pilares com alturas distintas sobre o terreno e existe no local um memorial com um arco de triunfo superior, no centro da ponte, com altura de 10 metros, denominado de Trajano.
Entrando na cidade através desta ponte, era o momento de me aventurar pelas ruas estreitas de Toledo. Importa referir que procurei um alojamento que, para além de ser acessível em termos de preço, que desse a possibilidade de ter a mota por perto. Há alojamentos que têm parque privativo mas que podem custar adicionais 12 a 15 € por noite.
Acabei por encontrar 2 ou 3 em que seria possível o estacionamento “fácil” da mota, mas mesmo assim não arrisquei porque não encontrei nenhum espaço especifico para estacionar a mota e a ideia que tenho é que em Espanha são muito rígidos no que respeita o estacionamento “anárquico” de motas, principalmente em cidades como estas.
Acabei por escolher um Hostel mesmo no centro, que não tinha parque próprio, mas que através do Google Maps descobri um espaço para estacionamento de motociclos a pouco mais de 50 metros.
O centro de Toledo está restrito, tal como acontece já em algumas zonas de Lisboa onde é preciso ser residente e ter cartão de acesso. Se fiz bem ou não, não sei, mas acabei por avançar num desses pórticos mesmo sem ter esse acesso de residente ou outro qualquer. Arrisquei e pronto.
Como estava de mota podia ser que não houvesse problema, contudo, para salvaguardar algum futuro problema, recomendo tentarem perceber se é possível ou não entrar de mota, mesmo não sendo residente.
Por ruas estreitas onde por vezes mal passa um carro, lá fui eu tentando chegar ao tal parque para motas, perto do Hostal, mas não foi fácil. Ruas com os sentidos de transito alterados relativamente ao que o GPS indicava, ruas fechadas ou em obras, ou então as pessoas que eram tantas que nem passavam as pessoas nem eu de mota.
Depois de algumas voltas e passar algumas vezes no mesmo sitio, lá consegui chegar ao local do parque reservado a motociclos e felizmente tinha um lugar à espera. Estacionei a mota e não mexi mais nela porque sinceramente, acho que não conseguiria lá ir dar novamente.
Acabei por retirar apenas as malas laterais, deixando a topcase e fui fazer o check-in. O local em questão foi o Hostal Palacios e a noite ficou em 35 € com pequeno-almoço incluído mas, não esperem grande coisa do pequeno-almoço já que não foi nada mais que uma bebida à escolha e torradas.
Depois, foi pegar na câmara e perder-me literalmente pelas ruas da cidade de Toledo. Não sei se era algum problema com o meu telemóvel, ou alguma coisa a ver com as ruas estreitas, mas o meu telemóvel teve alguma dificuldade em captar sinal de GPS e quando captava, era muito pouco assertivo.
Dirigi-me primeiro à Santa Iglesia Catedral Primada de Toledo e acabei por a contornar terminando depois na Plaza del Ayuntamiento onde se consegue tirar umas fotos interessantes devido à obra da escultora Cristina Iglesias, em comemoração do quarto centenário de El Greco, que causa reflexos interessantes mas… Se não tiverem uma lente grande angular, esqueçam… A Catedral é muito alta e só com uma lente dessas conseguem captar de alto a baixo.
Continuei a descer em direção ao rio e acabei por o contornar até à Ponte de San Martín. É um passeio engraçado, principalmente no final do dia, mas ainda é um pouco a andar. Pelo meio uma visita rápida ao Monasterio de San Juan de Los Reyes mas apenas ao exterior já que estava a decorrer uma cerimónia e um sinal pede aos visitantes, não participantes, que não entrem enquanto decorrem as cerimónias.
Continuei a subir em direção à Puerta de Alfonso VI, por onde já tinha entrado antes. Pelo caminho vão surgir alguns jardins onde se consegue ter uma vista sobre aquela que será a parte nova da cidade. Mais acima, entrando pela Puerta de Alfonso VI mas seguindo a Calle de Venancio González, vão dar a outro miradouro ainda mais acima para verem a parte nova toda da cidade.
Acompanhando sempre essa estrada, que vai em direção ao Museu del Ejército e ao Alcázar de Toledo, passam antes pela Plaza Zocodover que por sinal é bastante movimentada e cheia de esplanadas em seu redor fazendo deste local uma boa sugestão para jantar.
A estrada para o Alcázar de Toledo encontrava-se em obras e acabei por não passar por lá, até porque já estava a ficar noite e pouco ou nada se ia ver. Decidi então aventurar-me novamente pelas ruelas, dessa vez já com noite escura, na tentativa de encontrar o Hostal onde estava hospedado e felizmente consegui dar com o sítio relativamente fácil.
Dia 2: 160 km, de Toledo a Segóvia
O dia começou bem cedo. O relógio ainda não marcava 9h00 e já estava a despedir-me de Toledo.
Para ter uma última visão da cidade, decidi procurar um miradouro perto do Mirador Del Valle mas que, segundo uma foto que vi no Hostal onde dormi, dava a ideia de ter uma melhor visão sobre todo o vale.
Não foi muito difícil e consegui lá chegar depois de uma curta caminhada de 5 minutos. Este miradouro de que falo tem o nome de Mirador Piedra del Rey Moro e a melhor maneira de lá chegar é estacionar a mota/carro junto aos restaurantes do Mirador Del Valle e subir o monte, a sul, pelos trilhos de areia já criados. Não há como enganar.
Ao nascer do dia, como provavelmente ao final do dia, as vistas e as cores sobre a cidade são deslumbrantes e o facto de ser um local mais elevado, a visão sobre a cidade de facto melhora bastante em todo o seu redor.
A sua formação geológica natural e a existência de uma lenda faz com que se crie uma atmosfera mágica em torno deste local e sem dúvida que será um dos pontos que não se deve perder na visita a Toledo.
Saindo de Toledo, segui para Norte pela A42 e depois pela M50 que passa ao lado de Madrid evitando confusões de transito.
Chegado a Collado Villalba, virei em direção ao Parque Regional Cuenca Alta Manzanares porque não queria fazer sempre autoestrada e queria passar no Palacio Real de La Granja de San Ildefonso.
Antes de começar a subir a Serra de Guadarrama, fiz uma curta paragem para esticar as pernas, na albufeira de Navacerrada, já a 1200 metros de altitude.
Já depois de passar Navacerrada, o troço começa a 1300 metros de altitude e subi mais 560 metros acima do nível do mar em pouco mais de 7 km, com um desnível com média de 8%.
No topo, a 1860 metros acima do nível do mar, fica Puerto de Navacerrada que é uma estancia de esqui com vários hotéis, apartamentos e hotéis, muito procurados no inverno. As estradas são mais estreitas mas o desnível, quer a subir, quer depois a descer, fizeram valer a pena o desvio da estrada principal.
Chegado ao Real Sitio de San Ildefonso, os enormes portões de aço que rodeiam o complexo são a porta de entrada para este enorme jardim. Parece que entrei numa pequena cidade, dentro de uma cidade.
Subindo a alameda em direção ao palácio e jardins, é relativamente fácil arranjar lugar para estacionamento e existem inclusive algumas lojas dentro do complexo.
A parte do palácio que fica imediatamente visível não é a mais conhecida já que as fotos que poderão encontrar na internet será da fachada virada para os jardins, mas já lá vamos…
O Palacio Real de La Granja de San Ildefonso foi mandado construir por Filipe V de Espanha com inspiração no Château de Versailles, e permanece como uma das residências da Família Real Espanhola. De estilo barroco, conta com extensos jardins à maneira francesa e diversas fontes esculturais.
Atualmente é gerido pelo Instituto do Património Nacional da Espanha e está aberto ao público quando a Família Real não se encontra no local.
Com mais de 1.500 acres, cerca de 6 km2, os jardins que rodeiam o palácio são um dos melhores exemplos dos Jardins Europeus do século XVIII. O desenhador francês, René Carlier, usou a encosta natural que desce desde as montanhas até aos campos do palácio, como uma ajuda na perspetiva visual, assim como um recurso para conseguir pressão suficiente para fazer a água circular nas vinte seis fontes que decoram o parque.
No que diz respeito à arquitetura, Filipe V começou com um projeto simples da autoria do arquiteto espanhol Teodoro Ardemans, incorporando uma capela centrada numa das fachadas.
Este projeto seria alargado numa segunda fase, entre 1728 e 1734, sob o comando de Andrea Procaccini e Sempronio Subisati, com o alargamento dos pátios nas laterais. Mais tarde, o palácio receberia o seu aspeto definitivo com Filippo Juvarra e o seu assistente, Giovanni Battista Sacchetti.
Na encosta, numa posição mais elevada, fica a Fuente de las Tres Gracias com uma vista interessante para o palácio rodeado do verde dos jardins.
Infelizmente nenhuma das fontes continha água. Atualmente, apenas nos dias festivos de San Fernando e San Luis é que as vinte e seis fontes são ativadas para proporcionar aquele que deve ser um espetáculo muito interessante.
As canalizações ainda são as originais e ainda se mantêm funcionais. Estas contam somente com a gravidade para projetar água a uma altura de 40 metros no jato da fonte de Perseus e Andrómeda.
O lago artificial El Mar, isolado no ponto mais alto do parque, faz de reservatório de água e cria a pressão necessária para o funcionamento de todo o sistema.
Nos jardins vão encontrar várias fontes. A Fuente de la Fama (em baixo), Fuente de las Ranas, Fuente de las Tazas Bajas, Fuente del Canastillo, Fuente de las Tazas Altas, Los Baños de Diana (foto mais abaixo), entre outras.
Todas as fontes representam temas da mitologia clássica, incluindo divindades gregas, alegorias e canas de mitos. Foram produzidas em chumbo para prevenir a corrosão, e pintadas para simular bronze, um material nobre, ou laqueadas a branco para imitar mármore.
Sobre a elaborada fonte Los Baños de Diana (Banhos de Diana), provavelmente uma das maiores fontes e mais importante de todo o complexo, diz-se ter recebido de Filipe V o seguinte comentário “Isto custou-me três milhões e distraiu-me três minutos”.
Ver a fonte sem água não terá certamente metade da magia que a mesma a jorrar água pelo que, não posso concordar nem discordar com Filipe V a não ser no dinheiro que foi gasto para a construção da mesma.
Este complexo é enorme e facilmente se perde uma manhã ou uma tarde a circular por todo o jardim e, nem estou a contar com o interior do palácio que também pode ser visitado. Existem sombras suficientes para os dias mais quentes mas a falta de água nas fontes e lagos dá a sensação de que de facto está incompleto.
Do Palacio Real de La Granja de San Ildefonso até Segóvia são pouco mais de 20 minutos de viagem, cerca de 12,5 quilómetros, sem trânsito e a rolar em ritmo de passeio.
A cidade de Segóvia foi declarada Património da Humanidade pela UNESCO a 6 de Dezembro de 1985 e para mim a principal razão da visita foi o famoso Aqueduto Romano, mas também a Catedral e o Alcácer.
Depois de ser uma cidade importante em questões militares, sob o Império Romano, Segóvia viveu o seu apogeu durante a Idade Média tornando-se numa das residências favoritas dos reis de Castela. Nesse tempo, foram construídos inúmeros edifícios romanos que ainda hoje existem.
Antes de entrar para o centro da cidade, a primeira paragem foi junto à Igreja de Vera Cruz.
Anteriormente chamada de Santo Sepulcro, é uma igreja católica perto do Convento de San Juan de la Cruz na encosta que sobe para Zamarramala.
É um dos templos melhor preservados deste estilo na Europa. O templo foi dedicado, em 13 de Setembro de 1208, como atesta a lápide que fica em frente à porta lateral do templo, aos seus fundadores.
“Os fundadores deste templo são colocados no exército celestial e aqueles que os acompanham foram perdidos nele. Dedicação da Igreja do Santo Sepulcro. Nos Idos de Abril de 1246.”
Umas centenas de metros mais abaixo, novamente em direção ao centro, existe um grande parque de estacionamento onde costumam estar autocarros de turismo. Neste parque existe um grande descampado relvado e no topo, a visão imponente do Alcázar de Segóvia, com a sua peculiar silhueta e que capta a admiração de todos os que o contemplam.
Este local, com nome de Mirador de la Pradera de San Marcos, é sem dúvida um dos melhores locais para fotografar este magnífico palácio que será um dos cartões-de-visita da cidade, tal como o aqueduto.
Já depois de ter ido ao alojamento deixar grande parte da bagagem para andar sem pesos e pronto para uma caminhada pela cidade, nada como deixar a mota bem acompanhada na Plaza Artilleria. Este local fica na praça onde surge o aqueduto no seu ponto mais alto e estacionamento para motos não falta.
Este local, de qualquer um dos lados do aqueduto, está cheio de restaurantes e esplanadas sendo talvez um dos locais mais concorridos à noite, quer para jantar, quer para passar um pouco de tempo na conversa.
O Aqueduto Romano, construído sob o Império Romano, transportava água para a cidade de uma distância de 15 km. Com 167 arcos e 29 metros de altura no seu ponto mais alto, os mesmos são apoiados por um conjunto de pedras da Serra de Guadarrama sem recorrer a argamassa ou chumbo.
Existe uma rota oculta do aqueduto, de nome “Canal Madre”, que não é de conhecimento geral e, para sensibilizar para esta secção subterrânea do aqueduto, foi elaborado um itinerário com vários edifícios patrimoniais pelo caminho.
Vinte e quatro placas de bronze, de dimensões 10×15 cm, foram inseridas no pavimento coincidindo exatamente com o canal e que o guiarão numa curiosa rota, convidando-o a descobrir este monumento impressionante que remonta a mais de 2000 anos.
A rota “Canal Madre” começa pouco depois do Miradouro do Aqueduto, na Plaza del Seminario, que é onde termina o trecho do aqueduto visível e começa a secção subterrânea.
A rota atravessa várias ruas e locais marcantes como a Plaza Mayor e a Catedral de Segóvia, terminando depois no Alcácer, pelo que recomendo cruzarem a cidade seguindo este percurso.
Depois de percorrer algumas ruas estreitas da cidade, e já com uma visão sobre a Catedral, a Plaza Mayor é talvez o maior ponto de encontro na cidade de Segóvia com várias esplanadas a convidar a uma bebida ou simplesmente a uma conversa num dos muitos bancos espalhados pela praça.
A praça está delimitada pelo Teatro Juan Bravo de um lado, a Catedral de outro, a Câmara Municipal a meio e com vários hotéis e restaurantes a fecharem o espaço onde outrora foi lugar da Igreja de San Miguel onde Isabella foi proclamada rainha de Castela. A 26 de Fevereiro de 1532 o telhado da Igreja abateu enquanto se realizava uma cerimónia religiosa mas aparentemente apenas com um ferido a registar.
A Catedral de Segóvia, conhecida como a “Dama das Catedrais” pelo seu tamanho e beleza, foi construída entre 1525 e 1577, de estilo maioritariamente gótico, mas também com algumas características renascentistas.
Esta foi sem dúvida uma das últimas catedrais a ser construída em Espanha e na Europa que usou o estilo gótico quando a grande maioria já optava pelo estilo renascentista.
A antiga Catedral estava localizada muito próxima do Alcácer mas foi destruída em 1521 durante a Guerra das Comunidades. Já em ruínas, e com receio de novos ataques, partes do que ainda restava da Catedral foram transferidas para o local onde está hoje a Catedral, como o claustro, dando início à construção da atual Catedral de acordo com os planos de Juan Gil de Hontañón.
Com 18 capelas no seu interior, as mais proeminentes são a do Santíssimo Sacramento, a Capela de San Andrés, a Capela da Piedade e a Capela da Deposição.
Deixando agora a Catedral para trás e acompanhando ainda o aqueduto subterrâneo em direção ao Alcácer, nas ruas de empedrado cruzei-me com inúmeras lojas de recordações e produtos locais.
Já depois de entrar nos portões do jardim do Alcázar de Segovia, vamos encontrar um enorme jardim e a entrada para o palácio faz-se através de uma ponte levadiça devido ao enorme fosso que o separa.
Dos jardins do palácio é também possível ter uma bonita visão da Igreja de Vera Cruz, ao longe.
Este palácio fortificado foi erguido em posição dominante sobre um penhasco rochoso na confluência dos rios Eresma e Clamores, muito próximo das montanhas de Guadarrama, e é um dos mais distintos palácios em Espanha devido à sua forma (como a proa de um navio).
Com a referida monarquia, o Alcácer tornou-se um verdadeiro palácio e dele partiu Isabel “la Católica” a 13 de Dezembro de 1474 para ser proclamada Rainha de Castela na Plaza Mayor de Segóvia. Após a instalação da Corte em Madrid, o Alcácer perdeu a sua condição de residência real, passando a ser uma prisão estatal durante mais de dois séculos.
Em 1762, o rei Carlos III fundou a Real Escola de Artilharia, a qual se instalou no Alcácer até que no dia 6 de Março do ano 1862 um enorme incêndio destruiu os telhados e estragou a estrutura. A restauração começou em 1882 e no ano 1896 concluíram-se os trabalhos. Nessa data o rei Alfonso XIII, e no seu nome a Rainha Regente Maria Cristina, entregou o Alcácer ao Ministério da Guerra com aplicação exclusiva ao Corpo de Artilharia.
A visita ao palácio, que inclui também a visita ao Museu de Artilharia, tem um valor de 5,50 €. Como opção, podem ainda optar pela visita à Torre de Juan II, por 2,50 €.
Existe ainda a possibilidade de ter um audioguia para o ajudar a descobrir o Alcázar (disponível em português) por 3,0 € ou optar por visitas guiadas, mas estas apenas em espanhol. A compra dos ingressos é realizada no edifício lateral onde também existe um café/restaurante.
Caso optem também por visitar a Torre de Juan II, vão poder desfrutar de uma vista inigualável de Segóvia e todo o seu centro histórico, declarado Património da Humanidade. São 152 degraus numa escada em espiral, em que mal cabem duas pessoas, mas se tiverem tempo, recomendo também esta rápida visita à torre.
O palácio tem um piso muito irregular, adaptando-se à elevação sobre a qual o conjunto se ergue. No seu interior vai encontrar a Sala del Palacio Viejo (Sala do Paço Velho), a Sala de la Chimenea (Sala da Lareira), a Sala del Solio (Sala do Trono), a Sala de la Galera (Sala da Galeria), a Sala de las Piñas (Sala das Pinhas), a Cámara Regia (Quarto Real), a Sala de Reyes (Quarto dos Reis), a Sala del Cordón (Sala do Cordão), a Capela, a Sala de Armas e os salões do Museu da Escola de Artilharia Real.
Depois da visita ao Alcázar, que poderá muito bem demorar 1 a 2 horas, principalmente se subirem à Torre de Juan II, fiz o caminho inverso pelas ruas de Segóvia a um passo mais calmo com tempo para absorver a história que se respira nas ruas.
Sentado num dos muitos bancos de jardim da Plaza Mayor é interessante assistir à vida acontecer mesmo ali à nossa frente onde para além de espetadores, também passamos a ser parte da história.
Depois de um banho rápido e de jantar para recuperar energias, decidi dar um novo passeio até ao Alcázar porque a noite estava muito agradável. Parecia uma noite de verão e queria tentar tirar umas fotos da cidade em modo noturno, e valeu muito a pena o passeio mesmo sem ter tripé para as fotos ficarem com melhor qualidade.
Segóvia sem dúvida que me surpreendeu pela positiva e posso dizer que, depois de já ter visitado inúmeras cidades espanholas, esta foi sem dúvida uma das mais bonitas que visitei.
Dia 3: 80 km, de Segóvia a Ávila
Pouco depois das 9h00 da manhã era hora de seguir viagem, desta vez em direção à última cidade do roteiro, Ávila, famosa pelas suas grandes muralhas.
Quando saí de Segóvia apercebi-me de algo extraordinário a acontecer…
Embora não seja visível na foto porque tirei já longe da cidade, mas o céu ficou preenchido com mais de uma dezena de balões de ar quente muito perto do Alcázar. Após uma breve pesquisa consegui descobrir que estes voos rondam os 145 € por pessoa e podem ser reservados através da empresa Siempre en las Nubes.
Relativamente a Ávila, sem dúvida que foram as várias fotos da muralha em torno da parte antiga que fez crescer a curiosidade sobre esta pequena cidade no centro de Espanha.
Embora exista um maior número de lugares de estacionamentos na parte Norte, optei por estacionar na zona Sul e iniciar a visita à cidade pela Puerta de Santa Teresa. Na zona Este também existe um parque e a porta de acesso dá diretamente para a Catedral.
A Igreja de Santa Teresa de Jesus surge assim que passamos pelo arco da muralha. Construída sobre o local de nascimento de Teresa de Cepeda e Ahumada, mais conhecida por Teresa de Jesus, formando conjunto com o convento. A fachada esculpida na pedra é organizada em três secções, dando destaque à estátua de mármore da santa e aos brasões das famílias Cepeda e Ahumada.
Seguindo em direção ao topo da muralha, importa referir que existem apenas quatro pontos de acesso e duas secções onde se pode circular. Uma mais pequena, com apenas 260 m, com vista para a zona Sul e Este da muralha.
A outra secção, mais extensa, com cerca de 1440 m, dá uma visão mais ampla para a zona Este, toda a zona Norte e parte da zona Oeste. Em qualquer um destes pontos pode entrar ou sair, com o respetivo ingresso, no valor de 5,0 €.
Quando iniciei a visita pela muralha ainda não estava muito calor mas tendo em conta o clima deste local, é recomendado fazer a visita logo pela manhã porque não existem sombras e sob um calor intenso não deve ser nada fácil percorrer a muralha.
Depois de percorrer a zona Sul, de menor extensão, passei pela Catedral de Ávila que permanece tanto como igreja como fortaleza uma vez que está ligada à muralha e a sua torre é a mais imponente da parede Este.
A Catedral de Ávila é considerada como a primeira catedral gótica em Espanha e ergueu-se sobre as ruínas de um edifício que foi dedicado a El Salvador. Conta com duas entradas. Sendo que a principal, ladeada por duas torres, uma delas inacabada, dão o aspeto de igreja-fortaleza. Já a segunda porta, a dos Apóstolos, está localizada na lateral. A entrada tem um custo de 5,0 €.
De volta ao topo da muralha, com entrada pelo Posto de Turismo junto à porta Este da muralha, é tempo de percorrer a maior secção que se pode percorrer tendo uma visão ampla sobre toda a cidade protegida pelas muralhas.
Uns metros mais à frente depois da subida vamos encontrar, do lado de fora, a Basílica de San Vicente, construída em granito e fortemente influenciada pela topografia. Diz a tradição que a basílica foi construída no local onde foram martirizados e enterrados Vicente, Sabina e Cristeta.
Continuando a percorrer a muralha, ao longe vamos passar pela Capela de Mosén Rubí. Este conjunto arquitetónico consiste na união do Hospital da Anunciação e a Capela de Mosén Rubí, cuja arquitetura reflete a coexistência do estilo gótico tardio e estilo renascentista.
Depois de passar a Puerta del Mariscal e quase a chegar à Puerta del Carmen com uma silhueta inconfundível, temos uma vista sobre o exterior da muralha onde a grande maioria das pessoas tira a sua foto preferida.
Uma vez que a muralha neste local está desfasada, é possível olhar em direção a Oeste e perceber uma vez mais a poderosa imagem que esta muralha deixa transparecer.
Terminada a caminhada pelo topo da muralha, foi tempo de tentar ver toda a cidade por fora e nada melhor que uma pequena caminhada até Los Cuatro Postes.
Saindo pela Puerta del Puente, a Oeste, no alto é visível uma pequena estrutura que parece inacabada. São apenas 10 minutos de caminhada até lá e mesmo já sob calor intenso, não me arrependi.
Com uma vista privilegiada para a cidade a partir de Oeste, encontramos então o santuário San Sebastian, popularmente conhecido como Los Cuatro Postes. Este pequeno monumento é constituído por quatro colunas dóricas monolíticas com 5 metros de altura, ligadas por uma arquitrave com o escudo da cidade e, no centro, uma cruz de granito.
A data da sua construção é uma questão de controvérsia. Há quem defenda que a sua construção é de 1566, enquanto outros defendem que é do tempo dos Romanos onde existiu um pequeno templo. Há ainda quem defenda também que foi construído para comemorar o lugar onde Francisco de Cepeda encontrou Teresa de Jesus e o seu irmão Rodrigo quando fugiram para morrerem mártires em terras árabes.
Mais tarde, quando Teresa é expulsa da cidade pelas suas divergências religiosas, terá parado naquele mesmo local e, tirando as sandálias que levava calçadas, disse “de Ávila, ni el polvo” (de Ávila, nem o pó). Felizmente mais tarde Teresa reconciliou-se com a sua terra natal.
Este local é sem dúvida uma visita obrigatória, de dia ou de noite, com especial destaque para o pôr-do-sol já que o mesmo ilumina a parede Oeste da muralha.
Depois de circular em toda a muralha e observar a cidade do lado de fora, foi tempo de percorrer as ruas estreitas da cidade onde dificilmente uma pessoa se perde. Para fazer refeições, sugiro a Plaza Mercado Chico ou no quarteirão mais à frente onde existem também muitos cafés e restaurantes.
Dia 4: 550 km, de Ávila a Lisboa
O último dia normalmente é sempre aquele que há menos para contar, até porque é hora do regresso a casa. O cansaço começa a apoderar-se do nosso corpo mas é uma sensação boa de dever cumprido.
Com 550 km para percorrer até Lisboa mas de modo a aproveitar o belo dia que estava, optei por contornar um pouco o plano que já tinha feito e simplesmente programei a entrada em Portugal, em Badajoz, mas até lá escolhi apenas fazer estradas nacionais, e que escolha que foi. Posso dizer que os quilómetros que realizei até Badajoz foram os melhores quilómetros de estrada que já fiz de mota.
O piso é na sua grande maioria muito bom, com estradas largas e algumas curvas longas para fazer as delicias na condução. Parei muito ocasionalmente, principalmente para descansar, no entanto existem dois ou três pontos que poderão ser interessantes para uma paragem mais demorada.
Antes de entrarem no Parque Natural da Serra de Gredos, em El Barco de Ávila, e antes de passarem a ponte sobre o Rio Tormes, poderão fazer uma paragem para visitar o Castelo de Valdecorneja que é um palácio fortificado e fica numa posição dominante sobre o rio, no ponto mais elevado do vale. Junto ao rio também poderão visitar a Ponte Romana, provavelmente dos séculos XII ou XIII.
Já depois de passarem a zona do Parque mas antes de começarem a descer, aproveitem para parar no Mirador Del Valle Del Jerte com uma vista fantástica sobre o próprio vale e Tornavacas.
Uns quilómetros mais à frente, e depois de acompanharem a albufeira de Plasencia e a própria cidade de Plasencia, que por sinal tem vários monumentos que também poderão visitar como as Muralhas da Cidade, a Catedral e o Aqueduto de San Antón, vão cruzar o Rio Tejo por duas vezes e começa a dar aquele cheirinho a Lisboa…
Depois de Badajoz, a viagem foi realizada sempre em autoestrada e não houve nada mais a relatar a não ser que depois desta viagem que realizei sozinho, espero que não existam limites e que surjam muitas mais viagens.
Resumindo a viagem, deixo os pontos que achei mais interessantes em cada cidade. E para informações mais detalhadas e fotos dos locais a visitar nas respetivas cidades, consultem as minhas publicações:
TOLEDO
- Puente de San Martín
- Mirador Del Valle
- Mirador Piedra del Rey Moro
- Puente de Alcántara
- Puerta de Alfonso VI
- Alcázar de Toledo
- Santa Iglesia Catedral Primada de Toledo
- Monasterio de San Juan de los Reyes
- Plaza Mayor
SEGÓVIA
- Acueducto de Segovia
- Plaza Mayor
- Catedral de Segóvia
- Iglesia de San Andrés
- Alcázar de Segovia
- Mirador de la Pradera de San Marcos
- Iglesia de Vera Cruz
- Plaza Medina del Campo
- Torreón de Lozoya
- Iglesia de San Martín
ÁVILA
- Igreja e Convento de Santa Teresa
- Parroquia de San Pedro Apóstol
- Catedral de Ávila
- Basílica de San Vicente
- Capilla de Mosén Rubí
- La Puerta del Carmen
- Los Cuatro Postes
- Ayuntamiento de Ávila
- Plaza Mercado Chico
- Torre de los Guzmanes
ALOJAMENTOS
Toledo: Hostal Palacios
Segóvia: Hostales Sol-Cristina y Sol-Cristina Dos
Ávila: Hostal el Rastro
Mapa do Percurso
Caso pretendam o ficheiro para GPS, podem fazer download do ficheiro quatro-dias-por-toledo-segovia-avila.zip. (incluí versões GPX, ITN, KML, e TRF) e recomendo o programa (gratuito) TyreToTravel para planeamento das vossas viagens e conversão para GPS.
Planeia a tua próxima viagem com as ferramentas que eu uso.
Encontra os melhores alojamentos para as tuas férias no Booking. É onde eu faço as minhas reservas.
Encontra os melhores preços para as tuas viagens com a SkyScanner. Utilizo sempre este portal de pesquisa.
Se precisas de transporte próprio, aluga um carro na Discover Cars. Trabalham com várias agências.
Faz um seguro de viagem na IATI Seguros. Usando este link tens desconto direto de 5%.
4 comentários
Olá Nuno,
Excelente artigo, estamos a pensar fazer uma experiencia parecida. Obrigado pelo artigo
Obrigado pelo comentário. Este trio de cidades espanholas foi uma bela surpresa que tive e recomendo até porque se pode fazer em poucos dias 🙂
Excelente artigo! Já agora, qual das três cidades gostou mais? Quero ir um fim de semana a Salamanca e a uma destas 3 cidades, mas não sei qual escolher. Somos uma família de 4, com 2 crianças. Obrigada!
Olá Ana, obrigado pelos comentários. Eu gostei muito das três, mas se tivesse que escolher por ordem de preferência escolhia Segóvia, Ávila e depois Toledo. Não sei se chegou a ler os artigos de cada uma das delas, mas caso não o tenha feito poderá encontra-los aqui). Todas elas têm a sua particularidade, mas a Plaza Mayor, a Catedral e o Alcázar de Segóvia sem dúvida que dão uma certa magia à cidade. Tanto Ávila como Toledo têm algumas restrições de circulação automóvel. Quanto a Segóvia não tive qualquer problema ou limitação e percorri todas elas a pé sem qualquer problema. 🙂