As Portas de Ródão são uma formação geológica e geomorfológica localizada nas duas margens do rio Tejo, nos concelhos de Vila Velha de Ródão e de Nisa.
Monumento Natural desde 20 de Maio de 2009, as Portas de Ródão constituem um lugar único pelos seus valores:
- Geológicos: Garganta epigénica de Ródão
- Paisagísticos: Serra das Talhadas, sítio Natura 2000
- Arqueológicos: Arte Rupestre do Vale do Tejo, Estações de Vilas Ruivas e Foz do Enxarrique, Conhal do Arneiro
- Históricos: Castelo de Ródão, monumento nacional
- Biológicos: Flora autóctone e mais de 170 espécies de fauna, algumas raras em Portugal.
Esta formação geológica é resultado da interceção do duro relevo quartzítico da Serra das Talhadas com o curso do rio Tejo. Neste local há um estreitamento do vale para cerca de 45 metros de largura, e as duas paredes escarpadas atingem os 170 metros de altura fazendo lembrar duas “portas”, uma a norte no distrito de Castelo Branco, Beira Baixa, e outra a sul no concelho de Nisa, distrito de Portalegre, Alto Alentejo.
O encaixe do Tejo começou por erosão, há cerca de 2,6 milhões de anos, aproveitando acidentes tectónicos associados à falha do Pônsul.
O grande lago e as grandes profundidades imediatamente a jusante das Portas de Ródão testemunham a imponência da queda de água que aqui terá existido antes de se atingir a atual fase de equilíbrio.
Existem, na minha opinião, 3 bons locais para observar este imponente monumento natural. O mais rápido e de fácil acesso é o que fica na estrada EM1373, pouco depois da ponte de acesso a Vila Velha de Ródão, virando à esquerda em vez de seguir para a direita (sentido sul – norte). Neste local não existe sinalização ou um miradouro tradicional, mas apenas espaço de ambos os lados da estrada para estacionar. (ver mapa no final do artigo)
Outro dos locais interessantes para ver, e não só o Monumento Natural das Portas de Ródão, é o miradouro junto ao Castelo de Ródão, ou Castelo do Rei Wamba. Mas para chegar a este já terás que percorrer mais quilómetros de estrada sinuosa, mas a vista panorâmica compensa o desvio.
Por fim, e junto à margem norte rio, é um local que me chamou a atenção quando passei por Vila Velha de Ródão na minha viagem de 3 dias pelo Alto Alentejo e Beira Baixa. Trata-se de uma pequena península no meio do grande lago e acabei por investigar mais sobre ela antes deste passeio.
Segundo consegui apurar junto de um folheto da Geopark Naturtejo, trata-se da “Ilha” da Fonte das Virtudes.
Envolvida pelo rio Tejo, é o resultado da exploração de inertes para a Barragem de Cedillo que depois conjugado com a subida do nível das águas do rio levou à formação da “ilha” artificial ligada à margem. No seguimento desta “ilha” encontra-se um fresco amial onde existe uma pequena nascente de água termal que em tempos foi bastante apreciada para o tratamento de doenças de pele e do sistema digestivo, a Fonte das Virtudes.
As fotos que fui vendo deste local chamaram-me a atenção e coloquei na minha lista de locais a explorar para quando tivesse oportunidade fazer uma visita.
Para chegar a este local é necessário ir em direção a Vila Ruivas e depois seguir para Sul. Pouco depois do cruzamento que te levaria a Fratel, o alcatrão deixa de nos fazer companhia para dar lugar a um estradão de terra onde em tempos deveria ser apenas usado por animais de quinta.
Sozinho, de mota e com malas cheias, pensei se deveria arriscar ou deixar a mota e fazer o resto do caminho a pé… mas 2 km são 2 km… e arrisquei. O caminho termina junto da linha do comboio e na altura existiam obras no pavimento, provavelmente para prolongar/ melhorar o acesso à casa que se encontra junto à margem.
Pensei que o acesso se fizesse perto dessa mesma casa, que se encontra abandonada, mas não. Por mais voltas que desse não era possível ter acesso à “ilha” por ali porque embora pareça ter ligação, os portões de acesso encontravam-se com cadeados.
Alguns minutos depois e já de volta à mota, vencido pelo desalento de não conseguir ir à “ilha”, apercebi-me de uma placa de trilho que apontava em direção ao rio. Achei estranho, mas decidi arriscar para perceber se me levaria para junto do local que queria e eventualmente encontrava alguma ligação.
Por entre a vegetação, alguma bem alta, fui-me aproximando cada vez mais da margem do rio com o único receio de depois não conseguir voltar pelo mesmo caminho já que o mesmo estava muito pouco marcado, mas existe e faz parte do trilho PR2 VVR Caminho das Virtudes l Vilas Ruivas.
Já nas margens do Tejo o contraste entre o verde da vegetação e o azul do rio e do céu compensaram bem aqueles minutos de caminhada por entre vegetação com apenas o rio como referência.
O rio estava bastante calmo e os únicos sons ou eram de pássaros que ali voavam ou então das pequenas ondas que terminavam a sua odisseia na pouca areia escura na margem.
Lembro-me perfeitamente do silêncio e da sensação de relaxamento que senti não só pelo que estava a ver, mas pelo que ouvia e sentia.
O caminho até ao centro da ilha não está marcado e é feito em alguns momentos por terra ou relva, mas noutros momentos por cima de algumas pedras de tamanho suficiente para lesionar alguém que coloque mal o pé. Todo o cuidado é pouco principalmente quando a vegetação impede de vermos com clareza por onde caminhamos.
Descobri que as Portas de Ródão servem de habitat para a maior colónia de grifos do país e que aqui podemos observar mais de uma centena de outras espécies como a cegonha-preta, abutre-preto ou a águia-de-bonelli.
Existe inclusive já mais perto da “ilha” um local para observação e outra presença assídua neste local é a de mamíferos como o javali, o veado e gineta.
Embora mais longe das Portas de Ródão, porque a “ilha” está em direção oposta, a imagem continua a ser deslumbrante e todo aquele envolvimento com a natureza merece a caminhada, seja para observação das Portas de Ródão, seja para observação da natureza ou no melhor dos casos, tudo junto.
Olhando para Norte podemos encontrar ao longe o pequeno Castelo do Rei Wamba, acessível por estrada, o qual visitei mais à frente no passeio.
Sem dúvida que é uma caminhada que recomendo. Diria mesmo que o único inconveniente é a estrada de acesso, mas que mesmo assim não é impedimento até porque a mesma pode ser feita já em caminhada e não obrigatoriamente por mota / carro.
Em duas ou três horas consegue-se fazer a caminhada até à ‘Ilha” da Fonte das Virtudes e voltar. O trilho PR2 VVR tem como extensão cerca de 8,5 km, desde Vilas Ruivas, e uma duração estimada de 2 a 3 horas.
Já de regresso ao asfalto, em direção a Vila Ruivas, aproveitei também para passar no pequeno Castelo de Ródão, ou Castelo do Rei Wamba, e pela Capela de Nossa Senhora do Castelo. As duas construções estão separadas apenas por 150 metros e embora a capela esteja fechada a visitas, ela completa o visual do local.
Estas duas construções, o castelo e a capela, foram erguidas no morro norte do Monumento Natural das Portas de Ródão, no alto da Serra do Perdigão, também conhecida como Serra das Talhadas, a 300 metros de altitude.
Daqui conseguimos ter um panorama de todo o vale do Tejo a jusante do monumento natural.
Capela de Nossa Senhora do Castelo
Terá sido construída ou reestruturada no século XVI/ XVII e, segundo a lenda, foi fruto da promessa de um barqueiro, em situação de aflição, durante a travessia do Tejo junto às Portas de Ródão.
Da sua origem, resta a Senhora do Castelo, imagem da virgem com o menino ao colo, em pedra calcária (séc. XVI), atualmente em Vila Ruivas.
Foi um importante local de romaria dos povos da Beira e do Alentejo, mas neste momento mantém apenas a função religiosa original, com festa anual a realizar-se a 15 de agosto.
Castelo do Rei Wamba
A pouco mais de um corredor de 150 metros, o castelo não é mais que uma pequena torre que devido ao seu mau estado de conservação sofreu obras de recuperação, em 1999, deixando-o com o aspeto que agora se apresenta.
O local onde foi construído é de extrema beleza cénica e de grande importância estratégica, cruzamento entre rotas e vias de comunicação, com destaque para as deslocações do gado ovino, entre a Serra da Estrela e o Alentejo, e das invasões militares dirigidas a Lisboa que passaram o Tejo em Vila Velha de Ródão.
A origem poderá estar relacionada com a doação do território da Açafa, por D. Sancho I, à Ordem do Templo, em 1199, embora há quem admita que a sua origem é anterior. A porta original da torre situa-se ao nível do andar superior e no lintel, da porta, existem cinco linhas gravadas e a cruz da Ordem dos Templo.
Inicialmente, durante a Reconquista Cristã, teria como principais funções a vigilância da linha de fronteira do Tejo, das incursões muçulmanas provenientes de sul. A partir dos tempos modernos, o Castelo viria a ser utilizado, em particular nos séculos XVIII e XIX, como base de artilharia tendo em vista impedir a passagem do Tejo, de norte para sul e, consequentemente, a entrada no Alentejo, de acordo com uma rota de invasão através da Beira Baixa.
Lenda do Rei Wamba
A lenda do Rei Wamba, ou Maldição de Ródão, fala do amor adúltero de uma rainha cristã que vivia no Castelo de Ródão com um rei mouro residente do outro lado do rio. Diz a lenda que se namoravam sentados em cadeiras de pedra situadas num e noutro lado das Portas de Ródão, enquanto o rei cristão andava na caça ou na guerra.
Diz-se ainda que o rei mouro decidiu raptar a rainha cristã e para esse fim escavou um túnel, com início no Buraco da Faiopa, para passar por baixo do rio. Mas falhou o propósito e o túnel terminou a grande altitude, no morro sul das Portas de Ródão, onde existe uma cavidade a que chamam Buraca da Moura.
O rei mouro acabou por fugir com a amante que atravessou o rio sobre uma teia de linho.
Segundo a lenda, o Rei Wamba conseguiu resgatar a mulher e esta foi julgada em tribunal familiar que a condenou à morte por despenhamento, presa a uma mó. Mesmo antes da sentença ser executada a rainha terá amaldiçoado as gentes daquela terra:
“Adeus Ródão, adeus Ródão,
Cercada de muita murta,
E terra de muita puta,
Não terás mulheres honradas,
nem cavalos regalados,
nem padres coroados.”
Diz quem conhece a lenda que no local por onde passou a mó, nunca mais cresceu vegetação até aos dias de hoje.
Vila Velha de Ródão
Vila Velha do Ródão é uma vila do centro de Portugal marcada pelo bonito rio Tejo que a atravessa e desde cedo firmou a sua influência como meio de subsistência e comunicação.
As origens de Vila Velha do Ródão perdem-se no tempo, sabendo-se que o homem já habitava este local bem antes da criação da Nacionalidade Portuguesa.
Vila Velha de Ródão foi um ponto estratégico de delimitações de fronteiras cristãs face aos muçulmanos, e na garantia da liberdade de navegação do Tejo, como se pode constatar pela construção do castelo.
No século XII parte deste território foi entregue à Ordem do Templo que durante séculos geriu a zona.
Vila Velha do Ródão apresenta muitos pontos de interesse como a Estação Arqueológica da Foz do Enxarrique, a de Famaco ou Vilas Ruivas, não esquecendo a sua Igreja Matriz que pertenceu em tempos à Ordem do Templo, e o bonito Pelourinho Manuelino do século XVI.
São ainda de destacar outros recursos na região como a Barragens de Fratel (no rio Tejo) e da Pracana (no rio Ocresa), reunindo boas condições para a prática das mais diversas atividades de lazer e desporto.
Localização do Monumento Portas de Ródão
Coordenadas Google Maps: 39.6477908, -7.68132091 | Portas de Ródão no Google Map
Coordenadas GPS: 39°38’52.1″N 7°40’52.8″W
Acesso à “Ilha”‘ da Fonte das Virtudes
Coordenadas Google Maps: 39.643965, -7.694171 | “Ilha” da Fonte das Virtudes
Coordenadas GPS: 39°38’38.3″N 7°41’39.0″W
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