Lendas da Ponte da Misarela e Realidade no Coração de Barroso
A Ponte da Misarela, muitas vezes confundida com “Ponte de Mizarela”, está localizada sobre o Rio Rabagão, a cerca de um quilómetro da sua confluência com o Rio Cávado, na freguesia de Ferral, concelho de Montalegre, distrito de Vila Real.
Implantada no fundo de um desfiladeiro imponente, a ponte ergue-se como um marco da engenharia medieval, sustentada por um único arco de cerca de 13 metros de vão, apoiado em penedos escarpados.
O acesso à Ponte da Misarela é feito exclusivamente a pé, já que a estrada de terra e pedras é intransitável para veículos motorizados.
No percurso, somos presenteados com vistas deslumbrantes a partir de um miradouro estratégico, que permite avistar a ponte à distância e admirar o rio serpenteando pela paisagem.
Em dias ensolarados, o cenário é um convite à contemplação, embalado pelo silêncio tranquilizador da natureza.
Uma Ponte com Séculos de História
Embora originalmente construída na Idade Média, a ponte foi reconstruída no início do século XIX, um testemunho da sua importância ao longo dos tempos.
Desde 1993, é classificada como Imóvel de Interesse Público, não apenas pela sua arquitetura, mas também pelo papel que desempenha no imaginário cultural e religioso da região.
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As Lendas que dão Vida à Ponte
O que torna a Ponte da Misarela verdadeiramente única são as lendas que a envolvem, profundamente enraizadas na cultura do povo Barrosão.
Apesar de ser uma comunidade religiosa, é também conhecida por abraçar tradições de medicina popular, crenças pagãs e histórias místicas.
Lenda da Ponte da Fertilidade
A lenda mais conhecida diz que os casais que enfrentavam dificuldades em manter uma gravidez iam à ponte antes da meia-noite, levando uma corda e um copo. Após acenderem uma fogueira no arco da ponte, aguardavam pela primeira pessoa a passar, que seria responsável por batizar simbolicamente o feto ainda no ventre da mãe.
Se não aparecer ninguém durante a noite tinham que esperar até que surgisse alguém, mesmo que fosse durante o dia. Enquanto não fosse baptizado, o homem, pois a mulher não podia sair do meio do arco da ponte, enxotava todos os animais ou a pessoa que por lá queira passar e não queira fazer o baptizado.
Quando por fim aparecesse alguém que lhe quissess baptizar o filho, homem e mulher, pegavam na corda enrolada no copo e colhiam água que passasse debaixo da ponte. Se por acaso o casal se esquecesse de levar a corda, o padrinho ou a madrinha pegava no copo, ia de volta e colhia a água diretamente debaixo da ponte, custasse o que custasse, começando depois o baptizado.
O padrinho ou madrinha diria:
– “Eu te baptizo criatura de Deus, pelo poder de Deus e da Virgem Maria. Se fores rapaz serás Gervaz(io), se fores rapariga Senhorinha.”
A mulher que anda grávida desaperta a saia e era-lhe deitada água na barriga. O padrinho continua:
– “Agora vamos rezar um Pai Nosso e uma Ave Maria.”
Rezavam o Pai Nosso e a Ave Maria, mas não se dizia o “Amém” na Ave Maria.
Este ritual, segundo a tradição, garantiria que a criança sobrevivesse. Curiosamente, muitos acreditam que a região tem uma quantidade incomum de pessoas chamadas Gervásio ou Senhorinha, nomes atribuídos durante os batismos simbólicos na ponte.
Outra lenda popular, a da “Ponte do Diabo”, fala de um fugitivo que, ao ser encurralado pelas autoridades no desfiladeiro, invocou o Diabo para construir a ponte em troca da sua alma. Apesar da conotação sobrenatural, a ponte acabou abençoada, o que reforçou a crença de que ali poderiam ocorrer milagres.
Lenda da Ponte do Diabo
Conta-se que em tempos que já lá vão, um homem, fugitivo da justiça, vivia escondido entre arvoredos e rochas, junto ao rio Rabagão.
Um dia foi descoberto e queria fugir, mas como não conseguia passar o dito rio, devido à altura e às lajes que o rodeavam, desnorteado exclamou:
– “Por Deus ou pelo diabo, havia de me aparecer aqui uma ponte!”
Para espanto do homem, no mesmo instante apareceu a ponte e o diabo em cima da mesma disse:
– “Deixo-te passar, mas com a condição de me venderes a tua alma.”
O homem como estava aflito, disse-lhe que sim e lá passou.
Tempos depois, arrependido, foi-se confessar a um padre e contou-lhe o que se tinha passado.
O padre decidiu então ir resgatar aquela alma ao diabo. Para isso arranjou uma caldeira com água-benta e ao chegar ao tal sítio fez tal e qual o fugitivo, e, nesse mesmo instante, apareceu-lhe o diabo.
O padre ao ver o diabo, aspergiu-lhe água benta com um ramo que cortou do arvoredo e nesse mesmo momento o diabo deu um estouro e deixou no ar um cheiro diabólico.
NOTA: Parte do texto da lenda retirado de um mural na Taberna da Misarela, Ferral, Vila Real.
Uma Experiência Imperdível no Gerês
Visitar a Ponte da Misarela não é apenas uma viagem no tempo, mas também uma imersão na natureza intocada do Parque Nacional da Peneda-Gerês.
Com as suas histórias fascinantes e paisagens inspiradoras, é um destino que combina perfeitamente a aventura com o mistério.
Se pretenderem explorar mais da região, há trilhos que levam à Cascata da Frecha da Misarela, cujo som das águas se mistura com a serenidade do lugar.
Para prolongar a experiência, podem aproveitar os alojamentos nos arredores, como no Hotel Rural da Misarela, que combina conforto com a essência da cultura local.
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Localização da Ponte da Misarela
Coordenadas Google Maps: 41.691823,-8.018968 | Ponte da Misarela no Google Maps
Coordenadas GPS: 41°41’30.6″N 8°01’08.3″W
5 Responses
bela paisagem et bela obra magificas fotos mas o passeio nao deve ser facil bravo
Obrigado pelo comentário.
O acesso, embora não se possa fazer de carro, é pouco mais de 5 minutos a pé e não há grande dificuldade em fazê-lo. E vale mesmo a pena pela vista 🙂
Boa tarde Nuno, Obrigado pela partilha de informação. Sabe-me dizer qual o lado de acesso à ponte? No google maps vejo 2 trilhos, um do lado de Braga e outro do lado de Vila Real. Por qual será melhor?
Olá Mónica. O melhor será ir em direcção a VILA NOVA e seguir a RUA DO TEIXEIRA. Vai passar numa pequena bifurcação com uma pequena capela no meio, e uns metros mais à frente vai encontrar uma zona mais ampla com um género de miradouro com gradeamento.Foi aí que deixei o carro uma vez que o resto do percurso é muito irregular para tentar levar qualquer viatura.
Pode consultar aqui a melhor localização para deixar o veículo e depois descer a pé até à ponte https://goo.gl/NM7WLD
Olá Nuno,
Muito obrigado pela ajuda que tenho a certeza será uma mais valia muito em breve!
Continuação de boas viagens!